E se eu sentir medo ao morar fora?

E se eu sentir medo ao morar fora?

Eu não pude tirar férias esse verão, então esse fim de semana decidi ir à praia. O clima estava ótimo, especialmente no segundo dia, diferente do que a meteorologia previa. Fui à uma cidade que amo, Cap d’Agde, no sul da França.

Desconectei bastante das redes sociais, das obrigações e preocupações rotineiras. Tudo parece lindo até aqui, salvo que me conectei com um medo que tenho: O medo de mar.

Fingindo costume no litoral francês.

Na verdade não é medo de mar. É medo de: Pisar em algo bizarro que vai me deixar hospitalizada por semanas; ser atacada por um tubarão; encontrar uma espécie de piranha marítima que vai detectar algum machucado e me comer; algo me puxar e eu afogar; me deparar com um peixe com um bico em formato de aspiral que vai perfurar minha barriga; e mais um bucado de possibilidades catastróficas.

Se você ainda está lendo esse texto, faz parte das pessoas que decidiram resistir ao julgamento de que eu sou a pessoa mais louca que já encontraram, porque você sabe que é assim que o medo funciona.

Os medos variam…

Você tem medo de perder um parceiro amoroso e imagina os piores cenários possíveis: Algo de ruim acontecendo com ele, ele se apaixonando por outra pessoa, te traindo, indo embora da sua vida… Se o medo for extremo, começa a imaginar a vida sem ele, o que fará quando ele te largar, qual discurso vai dar à sua família, e por aí vai…

Você tem medo de não se integrar num novo país, e imagina que nunca vai falar bem o idioma, que ninguém nunca vai querer te contratar, que sua família no Brasil nunca vai te perdoar por ter saído de lá, que nunca vai conseguir um bom emprego ou amizades sinceras… O medo é assim: Ele é extremamente criativo. Possivelmente a mais criativa de todas as emoções. O medo nos faz criar um mundo paralelo na nossa cabeça e acreditar nele.

“O medo é assim: Ele é extremamente criativo. Possivelmente a mais criativa de todas as emoções. O medo nos faz criar um mundo paralelo na nossa cabeça e acreditar nele.”

Claro que ele não é nunca 100% irracional. Há coisas bizarras no mar (a Discovery Channel que nos diga!). Eu realmente não sei nadar direito (o que justifica parte desse medo). Pessoas já foram atacadas antes… Assim como no seu relacionamento pode haver alguns pontos que precisam ser trabalhados, ou você realmente precise melhorar seu nível de fluência na língua do seu país local…

Mas o que o medo irracional faz? Ele te faz focar em coisas fora do seu controle. Ele te faz considerar somente o pior, aumentar esse pior em pelo menos umas 300x e inventar novas possibilidades (que nunca irão acontecer com você nem com ninguém). E é exatamente nesse ponto que você se coloca diante da mais importante das decisões: O que você vai fazer diante desse mundo de emoções, sensações e pensamentos.

E é exatamente nesse ponto que você se coloca diante da mais importante das decisões: O que você vai fazer diante desse mundo de emoções, sensações e pensamentos.

E agora, como lidar com o medo?

Eu vou te contar o que eu fiz com meu medo de mar este fim de semana. Aprendi a nadar. Escolhi uma praia sem algas onde consigo ver a areia. Decidi ficar onde pessoas estão por perto. Decidi pensar no quanto perderia em não entrar na água. Comprei uma boia e FUI! O medo desapareceu? Não. Os pensamentos bizarros magicamente foram embora? Não. Mas eu fiquei lá, mesmo receosa, nadando cachorrinho no fim de semana e algo interessante aconteceu:

Meus pensamentos catastróficos melhoraram no segundo dia. Me senti menos alerta e consegui aproveitar ainda mais o momento. Por quê? Porque eu sei que o medo é uma emoção. Só uma emoção. Não é um fato. Não é algo material. Não é um objeto palpável. Não é uma condenação. É uma sensação que eu tenho e que você tem, mas não é o conteúdo real da vida.

Aliviada por ter sobrevivido em 100% das vezes nas quais entrei no mar (e foram várias vezes!).

Você não pode impedir pensamentos de virem à sua cabeça ou emoções de surgirem, mas você pode escolher o que fazer diante dessas experiências desagradáveis. Pode escolher focar no que não está sob seu controle ou no que você de fato pode fazer. Pode enxergar emoções desagradáveis como algo insuportável e intolerável ou simplesmente parte da experiência humana.

Pode decidir julgar que você é uma pessoa ruim e covarde por pensar coisas esquisitas e medrosas ou pode compartilhar isso com pessoas de confiança que vão te acolher como você merece. Pode escolher fugir do que você tem medo e deixar de aproveitar as coisas bonitas que a vida tem a te oferecer ou dar ao medo irracional o que ele realmente merece para que você tenha mais paz de espírito: A sua indiferença e dó.

Eu escolhi entrar no mar, aproveitar a vida e me dar a oportunidade de pensar de uma outra forma. E você, escolhe o quê? Me conta nos comentários aqui embaixo! 🙂

Gabriella é psicóloga clínica intercultural e trabalha unicamente com brasileiros e brasileiras morando fora do Brasil. A profissional produz ativamente conteúdos em saúde mental e imigração nas redes sociais e possui também uma série de e-books que tratam de temáticas especificamente ligadas a migração, seus percalços e alegrias.

Esse post tem 7 comentários

  1. Oi Gabi,

    Eu tinha medo de ter um namorado francês pq não queria ficar presa à França, então fiquei muito tempo sem querer conhecer ninguém pra não ter laços.
    Depois de muita terapia, encontrei meu chéri francês e a gente vai fazer um tour do mundo juntos. Depois não sabemos o que vamos fazer, mas voltar para à França também é uma opção.

    Parabéns pelo seu trabalho!
    Se você quer aproveitar um lugar muito lindo, recomendo Île des Embienz no Sul da França!

    Um abraço.
    Leticia.

    1. Oi, Leticia, acredita que só estou vendo seu comentário agora? Wow que incrível como se expor ao medo pode nos trazer coisas incríveis na vida, né? Desejo uma viagem ao mundo linda e irei checar sua recomendação!

  2. É sempre bom ler seus textos.
    Eu tenho medo de me expor nas redes sociais. Tenho alguns projetos desenhados na mente e no papel 🤦‍♀️ e só me falta coragem.
    Grata

  3. Amei o post no Insta e decidi ler o Blog, sensacional !👏🏻👏🏻Obrigada por se disponibilizar e colocar conteúdos tão profundo e importantes pra saúde mental, Deus te abençoe 😘😘

    1. Oi, Jéssica, acredita que só estou vendo esse comentário agora? Eu que agradeço sua mensagem, isso me motiva a postar mais blogs.

  4. Eu adorei te ver enfrentando seu medo e curtindo a praia, Gabi! *_* (insira aqui o emoji com corações nos olhos hehe) Como eu sou do tipo de pessoa que se sente melhor/feliz boiando na água, fico feliz que no 2ª dia você se sentiu menos alerta e aproveitou o momento. Acredito que todo mundo merece ter uma praia gostosinha pra relaxar e esquecer dos problemas. ^_^ Mas o que você falou do medo ser criativo, é verdade mesmo! Eu mesma queria ser tão criativa quanto o meu medo consegue ser, viu! hahaha

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